quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Olhar Oblíquo: dias 09, 16 e 23 de setembro

Como te explicar? Vou tentar. É que estou percebendo uma realidade enviesada. Vista por um corte oblíquo. Só agora pressenti o obliquo da vida. Antes só via através de cortes retos e paralelos. Não percebia o sonso traço enviesado. Agora adivinho que a vida é outra. Que viver não é só desenrolar sentimentos grossos - é algo mais sortilégico e mais grácil, sem por isso perder o seu fino vigor animal. Sobre essa vida insolitamente enviesada tenho posto minha pata que pesa, fazendo assim com que a existência feneça no que tem de oblíquo e fortuito e no entanto ao mesmo tempo sutilmente fatal. Compreendi a fatalidade do acaso e não existe nisso contradição. (Clarice Lispector, Água Viva)
Foto: Wiliam Aguiar

Um comentário:

  1. A vida oblíqua? Bem sei que há um desencontro leve entre as coisas, elas quase que se chocam, há desencontro entre os seres que se perdem uns aos outros entre palavras que quase não dizem nada.Mas quase nos entendemos nesse leve desencontro, nesse quase que é a única forma de suportar a vida em cheio, pois um encontro brusco face a face com ela nos assustaria, espaventaria os seus delicados fios de teia de aranha. Nós somos de soslaio para não comprometer o que pressentimos de infinitamente outro dessa vida de que te falo.( Clarice Lispector, Agua Viva)

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